quinta-feira, 18 de março de 2010

A reforma Psiquiátrica


Ontem assistimos pela segunda vez o filme Bicho de Sete Cabeças(a faculdade tá virando cineminha haha) o que acho ótimo pois através dos filmes podemos vivenciar e ver de perto situações que ocorrem muitas vezes na "vida real".

Esse filme relata a estória de um adolescente o Neto, que é internado pelo pai Sr.Wilson num manicômio, que toma essa decisão simplesmente pelo suposto envolvimento do rapaz com drogas, pelo fato de ter sido encontrado um cigarro de maconha nas suas coisas, O pai conservador, rude e ignorante que não procura em nenhum momento dialogar com o rapaz, nem tenta compreender as mudanças que passam na cabeça do filho numa fase tão conturbada como a adolescência o qual como muitos adolescentes apresentam um comportamento rebelde, reforçado pelo fato de procurar aceitação e identificação por um grupo de amigos do qual faz parte, incitando-o a utilizar bebidas alcoólicas, pichar muros e ter atitudes de confronto com o pai, esse adolescente não encontra apoio algum no âmbito familiar, composto por uma mãe submissa e uma irmã mais velha que chefia essa família.Sem preparo nem informação alguma o jovem é simplesmente deixado pelo pai nessa instituição onde é tratado de maneira agressiva, impiedosa e desumana, após receber alta, e retornando a outra instituição semelhante, leva o rapaz a tentativa de suicídio, ateando fogo aos cobertores num pequeno cubículo escuro onde se encontrava, quanto mais tempo no hospício, mais Neto vai ficando acabado, mental e fisicamente, o manicômio, que supostamente deveria curar o paciente, acaba por deixá-lo louco e mais alienado do que nunca, sem nenhum estímulo para o intelecto nem para o físico, e com funcionários violentos, resta-lhe apenas isolar-se em seu próprio mundo.O filme é encerrado com o pai, Sr.Wilson lendo uma carta de Neto, ou seja, ouvindo pela primeira vez a voz do filho.


A reforma psiquiátrica e os manicômios

A reforma psiquiátrica atuou transformando valores entre eles os valores sociais, nesse filme bicho de sete cabeças, fica bem claro a atitude da sociedade, com qualquer pessoa que demonstra-se algum comportamento diferente, ou seja, que está fora daquilo que a mesma considera normal,Neto é considerado pelo pai como homossexual ( alusão essa feita pelo fato do personagem usar brinco) e viciado em drogas, por ter sido encontrado um cigarro de maconha nas suas coisas comportamentos esses suficientes para justificar a internação do rapaz num manicômio.Posteriormente, vemos a atitude preconceituosa da mãe do amigo do neto ao fazer-lhes uma visita após o período da sua primeira internação, onde o mesmo é convidado gentilmente pelo então amigo a nunca mais aparecer naquela casa. A internação foi feita de maneira involuntária, ou seja, ele foi encaminhado ao manicômio, sem nenhuma explicação, embora esse tipo de internação possa ser solicitada, segundo a lei do Deputado Paulo Delgado que iniciou a luta da reforma psiquiátrica no campo legislativo, essa lei diz que existem critérios para se conseguir a internação de uma pessoa num manicômio, entre eles está a inclusão de um laudo médico o que evita possíveis erros e constata a real necessidade do internamento, critérios esse que não foi observado no caso do Neto, que não teve nenhuma avaliação Médica, nenhum exame, nem mesmo a consulta clínica de um profissional, justificando a sua estada na instituição, no filme bastou a irmã do rapaz contatar alguns conhecidos influentes o bastante pra lhe prestar esse favor,instituição essa que o Médico só aparecia uma vez por semana e mostrava um total desprezo e descaso com as pessoas internadas, nem sequer parando para ouvi-los, mais uma vez o personagem clama por alguém que o ouça, enfim que o compreenda. O médico, autoridade absoluta e inquestionável até então saber psiquiátrico se mostra frio e indiferente ao tratar o paciente a enfermagem estes que estão ali pra proporcionar conforto e segurança ao paciente, mostra total negligencia ao decorrer do filme, , não há uma preocupação diária com a higiene, e com a privacidade dos pacientes, já que vemos no filme num dado momento pacientes nus no pátio, há o fornecimento ou faciltamento de cigarros já que vemos muitos internos fumando, ( inclusive a mãe do protagonista, aparece no ínicio do filme com um cigarro na mão).Esse hospital era totalmente baseado no modelo hospitalocênctrico, já que a sua assistência estava baseada na internação ou seja a exclusão do paciente da sociedade, O Neto, foi excluído do convívio da família, dos amigos, da escola, a assistência no contexto do filme e antes da reforma estava baseada apenas na instituição já que todo paciente com distúrbios psiquiátricos precisava de uma para se recuperar, nos quais alguns métodos desumanos são evidenciados no filme, que foi o alvo da construção da crítica a esse tipo de hospital, que usava medicamentos fortíssimos, onde muitos pacientes ficavam em estado vegetativo e sem pensamentos, produziam alucinações, compartilhada até pelo diretor da instituição que se valia dos remédios, pacientes são trancafiados á exemplos do personagem que é preso por dias seguidos num cubículo escuro e fétido pelo enfermeiro que o acha indisciplinado, muitos sofrem agressões físicas, além dos choques elétricos praticas comuns em tais ambientes.

Em uma ligação feita pelo diretor do manicômio vemos, outra denuncia da reforma psiquiátrica a mercantilização da loucura é dado um incentivo a instituição pelo número de pacientes existentes no local, e para tanto não há escrúpulos o diretor diz: “pegaremos qualquer mendigo e lotaremos isso aqui!” Não há nenhum instrumento que avalie a instituição e possa levá-la ao descrendenciamento (nos casos das irregulares) como atualmente existe o PNASH/PSIQUIARIA na época anterior a reforma as únicas

possibilidades de fiscalização e avaliação eram os supervisores do SUS ou auditórias que atendiam a denuncias feitas por familiares de usuários, longe da realidade do filme, já que ninguém ouvia ao gritos de socorro de Neto, sua família antes das visitas era orientadas a não estranhar o comportamento do rapaz e a julgar pelo jardim da instituição e pelo aspecto corado e nutrido ( muitas vezes conseguidos a custa de remédios que lhe abria o apetite) não poderiam haver suspeitas.

Quando o Neto enfim consegue sair da instituição, vemos que ele não tem assistência alguma, após um período de internação prolongado não há nenhuma preocupação em reinseri-lo na sociedade, já que após um longo período internado necessitaria de apoio, para se readaptar como é dado atualmente pelos CAPs e NAPs e residências terapêuticas, ele precisaria do apoio dos Capsad ( que atende a usuários de drogas e álcool) já que supostamente ele se encaixa nesse perfil, essas instistuições são instrumentos de grande valor para a para a reforma, já que o seu principal objetivo é acabar com esse tipo de hospital ( manicômio) mas não deixar que pessoas egressas desses hospitais fiquem desassistidas ajudando assim no processo gradual de desistitucionalização desse paciente ,ou seja, até chegar o ponto dessa pessoa não depender mais de instituição alguma.

Enfim acredito que podemos levar em consideração muitas coisas para discutir como por exemplo a maneira com Neto foi internado: alguem tomou frente disso,decidiu por ele o que muitas vezes é necessário mas não nesse caso em que a experiência de internação foi uma vivência de abandono,deslealdade e amargura.


bjss

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